sexta-feira, 20 de abril de 2007

Doce Morte


Venha à mim com sua mão implacável
Tira-me deste momento de dor que me assola a alma
Tira-me da água, preciso respirar
Devolva-me a paz, devolva-me a calma.

Tudo se perdeu em meio aos meus pensamentos
Não consigo abrir os olhos, não enxergo mais a rua
Nada mais existe, senão os meus tormentos
Murcha meu coração, assim como míngua a lua.

Livra-me dessa dor, reitero
Coração rasgado, alma ferida
Não posso viver nessa angústia e desespero
Não quero viver uma mísera sobrevida.

Num grito de socorro, digo:
"Oh! Doce morte, venha à mim!"
Livra-me em definitivo deste castigo
Para que eu possa descansar enfim...

Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Senhas


Hoje em dia precisamos de senha para tudo que move este mundo capitalista. É senha para banco, senha para loja, senha de atendimento, senha para ter direito a enfrentar uma fila... Estamos acostumados a viver submetidos às tais senhas. Se estas nos ajudam, dando-nos uma certa segurança, ao mesmo tempo nos enganam com a falsa sensação democrática que carregam consigo.


"Boa tarde senhor. Em que posso ajudá-lo?"
"Olá mocinha, preciso de uma passagem de ida no próximo expresso que sai rumo à Guadalupe."
"Pois não senhor, me entregue o papelzinho com sua senha e tirarei seu ticket."
"Pois é, mocinha, o problema é que acho que perdi o papel. Estive aqui esperando nas últimas duas horas, e quando quase chegava minha vez de ser atendido senti a necessidade de utilizar o toilette. Fui tão rápido, com medo de ser chamado por um de vocês e não estar presente, que não me dei conta de que deixei cair o papel. Mas me lembro perfeitamente que o número é 89. Não iria esquecer, já que é a idade de meu pai que está doente, o qual estou indo às pressas visitar em Guadalupe."
"Senhor, infelizmente não posso lhe atender sem seu papel constando esse número."
"Mas, minha querida, eu estou lhe dizendo que é 89, porventura não confia em minha palavra?"
"Não é isso senhor, é norma da empresa, preciso de sua senha."
"Faça assim então, chame pelo 89 algumas vezes e verás que não virá ninguém, assim poderá me atender."
"Senhor, sem o papel não posso fazer o atendimento, lamento muito. Mas o senhor pode se dirigir ao balcão e retirar uma nova senha."
"Moça, estou sem banho, sem almoço, esperando à mais de duas horas e você me diz para pegar outra senha? Sabe-se lá quando é que conseguirei ser atendido novamente?"
"Não, senhor, fique tranquilo. Daqui posso ver os papeizinhos com as senhas, e o próximo possui apenas dois dígitos. Ou seja, está entre o 90 e o 99. Com certeza não irá demorar muito. Por favor, peço-lhe que pegue outra senha. Temos câmeras de segurança aqui, senão me complicarei com a chefia."
"Bom, se não tem outro jeito..."

Quatorze minutos depois: "Número 93, dirija-se ao guichê 06 para atendimento! "

"Pronto mocinha, lá vamos nós de novo! Uma passagem no próximo expresso para Guadalupe, por favor. Aqui está a minha senha, número 93."
"Senhor, as passagens para Guadalupe estão esgotadas. Só temos vaga no expresso de amanhã, às 13 horas."
"Não acredito! Fiquei aqui esperando mais de duas horas para a senhorita me dizer que não existem mais passagens?"
"Fique calmo, senhor. O senhor ainda pode entrar na fila de espera das desistências. Sempre temos uma ou outra desistência em cada viagem."
"Bom, então nem tudo está perdido! E o que tenho que fazer para entrar na fila de espera?"
"Basta ir ao guichê 14 e retirar a sua senha..."

Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

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