quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Corpóreo


Mãos entrelaçadas onde mais a visão não fita...
Apenas um de nós poderá ver.
Retinas enlevadas pela névoa.
Doce cheiro de serração...
Dos olhos que escorrem fogo,
logram-se as mais belas imagens.
Chamas que esquadrinham os quadris
dançam em meio à narinas enfumaçadas.
Ouça!
É a vibração que produz essa sensação!
(Peça musical produzida pelo mais tênue e suave encontro de vocais)
E o sal que exala destes corpos,

escorre

cristaliza

escorre

cristaliza

escorre

cristaliza

escorre

cristaliza...

Doce ciclo!



Escrito por Juliana Melo Paulo

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Eu & Ente


Falarei de mim, particularmente.
Às vezes sou delinquente.
Inconsequente,
simplesmente,
Sou boazinha, comumente.
Mas posso ser uma serpente.
Sou demente, sou doente.
Tantas vezes impertinente...
Mas amo carinhosamente.
Se precisar de mim, particularmente,
me chame imediatamente,
e responderei prontamente.
Sou princesa ocasionalmente,
mas viro bruxa facilmente.
Quase instantaneamente!
Sou anjo e sou diabo, simultaneamente.
Posso entrar na sua mente
ardilosamente,
repentinamente...
Posso tomar seu corpo de forma ardente
deliciosamente,
docemente.
Estou em sua vida pra plantar minha semente.
E escrevo este, para dizer, mesmo que inconscientemente,
que sou apenas gente.


Escrito por Juliana Melo Paulo

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

my suffering


internou-se em mim toda essa dor
disseminou-se em meus órgãos
à princípio, sente meu estômago
vermes sedentos de carne humana
human meat...
uma dor já conhecida de mim mesma
sanguessugas chupam meu sangue
sem a promessa de sangue novo
fresh blood...
estímulos visuais provém do meu coração
coração que bate mais lentamente
slow motion...
slow emotion...
o centro vaso-motor estoura minha frequência cardíaca
nada mais funciona
nada mais responde
porém o cérebro não pára
fast thoughts...
o que resta são os pensamentos
que tomam este corpo morto
dead body...
nada mais este cérebro pode fazer
nem lamentar
nem levantar hipóteses
nem corroborá-las ou refutá-las
emoções já não existem mais
apenas vazios
núcleos recheados de nada
a última coisa que sinto
é algo brotando de minha carúncula
sad tears...


Escrito por Juliana Melo Paulo

domingo, 23 de setembro de 2007

linho


alvo leito de deleites
ndício do que se passa por um doce vício
singela aparência da mais fina essência
do sabor
do ardor
do amor
espíritos sem cores que sentem suas dores
respirem o odor da bondade
percam a maldade
chorem por liberdade
doce sonho que por mim proponho
tornar-te real, afinal
e o desejo, aquilo que realmente almejo
que dure essa tal felicidade
nos banhe
nos acompanhe
nos entranhe
e que seja essa nossa infinita verdade


Escrito por Juliana Melo Paulo

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Vozes no Silêncio


Vozes ecoam no silêncio.
O silêncio de minha tortuosa mente.
Deixem-me calcular, imaginar, supor...
Permitam-me formar um parecer.
Por que me angustiam?
Por que emitem esses sons que sujeitam-me à tortura?
Oh! Amarga e consternadora tortura,
funesto martírio sedutor de meu intelecto...
O que queres de mim, sussuro medonho?
Queres me martirizar?
Queres mortificar-me?
Abismem-se de mim, fantasmas agourentos!
Deixem-me ouvir a mim mesma.
A minha voz que se cala diante de vossos desígnios...
De vossos juízos...
Extinguam-se de mim, vós e vossa tribuna.
Seres que me causam abafamento...
Estou sufocando...


Escrito por Juliana Melo Paulo

sábado, 1 de setembro de 2007

Túmulo


Não há prantos que se ouçam mais
do que os gritos inebriantes desses lábios mudos.
Abraça-me no conforto de teus braços escarlates.
Troca o calor de teu corpo afogueado por minha pálida gelidez.
Sente-me,
mistura-te a mim,
toma-me sem sacrifício.
Agradável.
Aprazível.
Que tua mantilha aveludada seja minha mortalha.
E um gracioso toque de seda.
Aturde-me com esse fresco odor do campo.
O odor da sorte,
o odor da morte.
Por fim, cubra-me com teu verniz,
e me mantenhas intacta.
Haverá um grande banquete esta noite!
Deleitem-se animais invertebrados,
helmintos e gusanos,
vermes vindos do centro da terra:
eis aqui, teu alimento!


Escrito por Juliana Melo Paulo

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Considerações pertinentes sobre o museu da loucura, o hospital psiquiátrico de Barbacena e a psicologia...


Um lugar carregado de dor.
Trabalhos, uniformes, fotos, moedas, aparelhos, utensílios, acessórios...
Tudo sujo de lágrimas...
Dor, sofrimento, e abandono...
Me emocionei com os maus tratos aos pacientes quando o hospital foi fundado.
Crianças algemadas e acorrentadas pelo pescoço.
Nem consegui ver o museu todo, comecei a passar mal, a sentir o clima pesado...
Saí e chorei...
Muitíssimo pesado.
Quando fomos visitar o hospital, nas casinhas de reabilitação dos doentes mentais, teve uma senhora que grudou em mim por eu estar de branco.Me chamava de doutora e me abraçava.
Me contou da família dela... Uma família que não lembrava mais que ela existia.
Nossa, que dia emocionante!
Realmente fazia tempo que eu não me emocionava tanto.
Se todos vissem as coisas que eu vi, da forma que eu vi, também chorariam.
É triste...o hospital criou essas casinhas para "reabilitação" dos doentes mentais não perigosos, os que devem ser reintegrados à sociedade.
Mas aquilo parece um asilo.
Tá na cara que são pessoas, homens e mulheres, que nunca vão voltar à viver em sociedade.
Vão morrer ali.
É muito doloroso, é muito sofrimento.
Eu amo os doentes mentais.
Eu nasci pra dar amor a essa gente.
Isso é tudo o que eles não têm.
E se eu precisar deixar de viver a minha vida pra viver pra eles, eu vivo.
Por isso, eu tenho orgulho do que eu faço.
É simplesmente maravilhoso.
É lindo, lindo...
E, na verdade, não é mérito nenhum.
É obrigação.
É o mínimo que todo ser humano deveria fazer.
Se cada um desse um pouco de si pro outro, o mundo não seria caótico como é.
Meu estômago embrulha de lembrar dessa visita.
Foi uma das experiências mais fortes que já tive.
Pra isso eu estudo, eu me dedico, e para/por dois tipos de pessoas irei até o fim.
Um tipo são meus queridos doentes mentais.
O outro tipo é o envolvido pela psicologia hospitalar.
Pacientes desenganados...
Terminais...
Que tem um fio de vida, ou nem um fio...
Que esperam por uma chance de sobreviver, ou esperam pela morte...
Cuidar deles e de seus parentes, que sofrem junto.
E nessas horas me sinto estranha...
Sinto que às vezes um pequeno probleminha meu, particular, pode me derrubar.
Sinto como se um sopro me derrubasse.
Ao mesmo tempo que sinto que, se eu precisar esquecer de mim e levar o mundo nas costas, eu dou conta.
Sem medo nenhum de não dar.
Isso porque simplesmente eu amo o ser humano.
É o amor no qual acredito.
É o amor que deveria ser mais abundante nesse mundo.
Como eu gostaria que as pessoas não perdessem seus valores...
Não deixassem que o lixo no qual transformamos esse mundo diminuísse sua essência. Conheçam a maldade.
E vivam alheios à ela.
Que me chamem alienada!
Mas prefiro morrer do que sucumbir à maldade.
Se um dia eu me perceber corrompida por essa podridão, por essa sujeira, eu acabo com tudo.
Não foi pra isso que eu vim aqui.
A minha missão é grande, é árdua, mas é a melhor de todas.
É amar, e fazer com que esse amor se dissemine, de alguma forma.


Escrito por Juliana Melo Paulo

sábado, 14 de julho de 2007

Follow the light...


The road is dark.
Very dark.
So Dark...
Steps.
Feet before feet.
There is no sound around.
I hear my steps.
I feel cold.
The racket of my heart beating is deafening.
The ice that goes down my throat is as a silver wire.
A needle pointing to my chest.
Smoke goes out of my nostrils confusing the vision of my eyes.
Eyes that are watering and dry.
Dry and watering.
They dry.
They dry.
The body starts to anesthetize.
I do not feel my fingers.
I do not feel my legs.
Involuntary movements.
Smoke, iron, water.
The fog recovers me.
I see nothing around me.
I do not know where to go.
I don't see the way.
Loss...
A light.
Far far away.
So far away.
Follow the light.
I Follow the light.


Escrito por Juliana Melo Paulo

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Alma Falida


Não me vejo mais no espelho.
A imagem que enxergo é uma projeção do que sou.
Ou do que pensam que sou.
Ou do que observam em mim.
Pobre gente... Para que enganá-la?
Involuntário...
... o movimento que rege a minha alma.
Alma burra!
Por que não segues o que pensa teu cérebro regente?
Para que lutar à favor da dor?
Acomete à ti mesma dos piores sofrimentos.
Perdes tua forma...
Tomas essa imagem distorcida de ti mesma por ideal?
Pois vivas assim!
Arrasta-te pelo breu da vida!
Entronize este holograma que te tornartes.
Te satisfaça com esta figura falida de ti mesma.
Viva a vida!
E viva a morte...


Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

sábado, 2 de junho de 2007

Corre, irmão!


Pés fronte pés.
Ação, razão, emoção...
Ócio, insanidade, indignação, falta de reação...
Ouça o barulho da sirene.
A caça, luta pelas cabeças dos animais de pequeno porte.
Corre ladrão,
para que não te peguem de calças na mão.
Querem livre uma gente que desconhece o real sentido de liberdade.
Corre, irmão!
E não vá dizer que queres apenas pão.
Não os faça zombar de tua situação!
Luta escravizada pelo direito de opinião.
Marque as opções que lhe forem dadas. Apenas uma delas.
Quem sabe não darás a sorte de ser a mesma opção.
E, assim, entoarás vivas à democracia, e louvarás o direito de escolha.
É assim que eles mantém o teu cérebro à mão.
Lavagem. (Gente higiênica, não?)
Deixe que o asfalto recolha este sangue.
Suga-me, terra, elemento rei, digno de todo o respeito e admiração.
Não havereis de negar quem retorna pro teu chão.
Ouço o barulho da sirene.
Não há mais fôlego.
Não há mais força.
O barulho, distante. Notado apenas por quem tem o ouvido colado ao chão.
Corre, irmão...


Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

domingo, 13 de maio de 2007

Falta apenas o fim...


Falta pouco...
Os dias estão passando. O grande dia se aproxima. Esperado, desejado, como só ele poderia ser atualmente. Apenas ele, e nada mais...Um dia inevitável. Antes, inevitável por não se poder evitar. Hoje, inevitável por não se querer evitar.
Apenas uma espera. Para uns, longa. Para outros, curta. Pra mim, ainda menor...
Falta mto pouco...
A sensação de aguardar é boa. Dá-se uma resignação por tudo que já se foi. Os arrependimentos tornam-se marcas de aprendizado. Os acertos, belas lembranças, agora quase esquecidas.
Serenidade...
Paz...
O dever não foi cumprido, mas não há o que fazer.
O tempo se foi. E com ele as oportunidades que, outrora, passaram despercebidas. Surge um auto-remorso. Quisera eu tê-las notado, e as feito minhas aliadas, não minhas inimigas. Seria tudo diferente? Ah, não adianta pensar nisso agora. Nada mais adianta. Apenas me resta lamentar.
As lágrimas que rolam não são mais de dor. Não poderiam ser de outra coisa, senão de conformidade. Não existem possibilidades de mudança, quando não existe caminho. Apenas permaneço no aguardo.
(breve aguardo)
Deito minha cabeça.
Fito o horizonte.
Falta apenas o fim...


Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Doce Morte


Venha à mim com sua mão implacável
Tira-me deste momento de dor que me assola a alma
Tira-me da água, preciso respirar
Devolva-me a paz, devolva-me a calma.

Tudo se perdeu em meio aos meus pensamentos
Não consigo abrir os olhos, não enxergo mais a rua
Nada mais existe, senão os meus tormentos
Murcha meu coração, assim como míngua a lua.

Livra-me dessa dor, reitero
Coração rasgado, alma ferida
Não posso viver nessa angústia e desespero
Não quero viver uma mísera sobrevida.

Num grito de socorro, digo:
"Oh! Doce morte, venha à mim!"
Livra-me em definitivo deste castigo
Para que eu possa descansar enfim...

Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Senhas


Hoje em dia precisamos de senha para tudo que move este mundo capitalista. É senha para banco, senha para loja, senha de atendimento, senha para ter direito a enfrentar uma fila... Estamos acostumados a viver submetidos às tais senhas. Se estas nos ajudam, dando-nos uma certa segurança, ao mesmo tempo nos enganam com a falsa sensação democrática que carregam consigo.


"Boa tarde senhor. Em que posso ajudá-lo?"
"Olá mocinha, preciso de uma passagem de ida no próximo expresso que sai rumo à Guadalupe."
"Pois não senhor, me entregue o papelzinho com sua senha e tirarei seu ticket."
"Pois é, mocinha, o problema é que acho que perdi o papel. Estive aqui esperando nas últimas duas horas, e quando quase chegava minha vez de ser atendido senti a necessidade de utilizar o toilette. Fui tão rápido, com medo de ser chamado por um de vocês e não estar presente, que não me dei conta de que deixei cair o papel. Mas me lembro perfeitamente que o número é 89. Não iria esquecer, já que é a idade de meu pai que está doente, o qual estou indo às pressas visitar em Guadalupe."
"Senhor, infelizmente não posso lhe atender sem seu papel constando esse número."
"Mas, minha querida, eu estou lhe dizendo que é 89, porventura não confia em minha palavra?"
"Não é isso senhor, é norma da empresa, preciso de sua senha."
"Faça assim então, chame pelo 89 algumas vezes e verás que não virá ninguém, assim poderá me atender."
"Senhor, sem o papel não posso fazer o atendimento, lamento muito. Mas o senhor pode se dirigir ao balcão e retirar uma nova senha."
"Moça, estou sem banho, sem almoço, esperando à mais de duas horas e você me diz para pegar outra senha? Sabe-se lá quando é que conseguirei ser atendido novamente?"
"Não, senhor, fique tranquilo. Daqui posso ver os papeizinhos com as senhas, e o próximo possui apenas dois dígitos. Ou seja, está entre o 90 e o 99. Com certeza não irá demorar muito. Por favor, peço-lhe que pegue outra senha. Temos câmeras de segurança aqui, senão me complicarei com a chefia."
"Bom, se não tem outro jeito..."

Quatorze minutos depois: "Número 93, dirija-se ao guichê 06 para atendimento! "

"Pronto mocinha, lá vamos nós de novo! Uma passagem no próximo expresso para Guadalupe, por favor. Aqui está a minha senha, número 93."
"Senhor, as passagens para Guadalupe estão esgotadas. Só temos vaga no expresso de amanhã, às 13 horas."
"Não acredito! Fiquei aqui esperando mais de duas horas para a senhorita me dizer que não existem mais passagens?"
"Fique calmo, senhor. O senhor ainda pode entrar na fila de espera das desistências. Sempre temos uma ou outra desistência em cada viagem."
"Bom, então nem tudo está perdido! E o que tenho que fazer para entrar na fila de espera?"
"Basta ir ao guichê 14 e retirar a sua senha..."

Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

Caso queira postar um comentário, favor retirar a sua senha.

sábado, 24 de março de 2007

Solidão


Para onde me leva essa estrada?
Onde vai dar esse caminho?
Não importa, não quero saber mais nada.
De uma forma ou de outra, estarei sozinho.

Solidão, sombra projetada no escuro,
Mão que me empurra para o doce precipício.
De onde não consigo mais enxergar o quão duro
É utilizar-se de uma vida nesse simples desperdício.

Desilusão, caminho com estacas cortantes,
Quente lâmina, terra e frio.
Sustos e medos, veias gritantes.
Sopro quente, gélido arrepio.

Mais um passo e desfaleço.
Já não posso mais caminhar.
Mas desperto, num tropeço:
Sim, acho que ouço o barulho do mar...

Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz

terça-feira, 20 de março de 2007

Vazias


Por que ainda me pego procurando algo dentro das pessoas?
Por onde passo persigo o existir, esperando nele encontrar a resposta para questões trazidas a mim no decorrer da vida...
Estariam em mim as respostas?
Se é esta a grande verdade, não deveriam elas surgir ao menor perceber?
Por que então é tão difícil encontrá-las?
Ando pelo mundo olhando para as pessoas, e quantas não são as vezes que me pego pensando no que existe dentro de cada uma delas...
Vejo rostos pelas ruas, e me pergunto se sentem o que eu sinto.
Cada um com suas marcas, suas dores, seus prazeres.
E eu sozinha no meio deles, sentindo esse vazio consumir a minha alma.
Vazio esse, que me entranha a cada dia.
Estaria eu procurando nas pessoas o conteúdo que não encontro dentro de mim?
Mundo superficial...
Onde estão os sentimentos, as paixões, as emoções?
Morre o mundo, ou morro eu?
Onde está a vida?
Vida?
Que vida?
Objeto de refúgio que me leva para o fundo, auxilia-me a afogar-me.
Segurar onde?
Segurar?
Tem certeza?
Para...?
Fundamento da eternidade. (Não almejar o eterno)
Morre o mundo...
Morro eu...

Escrito por Juliana Melo Paulo Munhoz