segunda-feira, 27 de setembro de 2010


A Vida de Maricotinha - Cap. III

Os meses passavam em sua nova casa e Maricotinha começava a se acostumar com sua nova família. Só via seus pais à noite, pois os dois saíam cedo para trabalhar. Quase não mamou, pois sua mãe não produziu muito leite. Isso deixava Maricotinha com muita, muita fome. Ela gritava, chorava, pedia socorro. Sua vó era quem lhe cuidava durante o dia, e não sabia mais o que fazer. Trocava-lhe as fraldas, dava-lhe leite de vaca, remédio para cólicas, e nada calava os gritos da faminta Maricotinha. À noite era ainda pior. Mas a mãe de Maricotinha se aconselhou com uma sábia vizinha, que lhe disse da forma menos polida possível: "o que essa menina tem é fome, vocês não alimentam ela não?". Neste dia portanto, a mamãe Maricota fez um mingau com o qual alimentou Maricotinha. A criança dormiu o sono dos justos. A noite toda. E tão profundamente, que sua mãe colocava um espelhinho sob seu nariz, de tempos em tempos, para verificar se a mesma estava respirando.

Resolvido o problema da fome, Maricotinha começou a apreciar melhor a caída da noite. Gostava de ver o céu mudar de cor deitada em seu carrinho de bebê, na varanda da sala de seu apartamento gigante. Mas tinha uma razão maior da espera pela noite: quando sumia o sol e nasciam as estrelas, o homem barbudo chegava em casa. Maricotinha gostava desse homem. Gostava tanto, que quando o mesmo enfiava a chave na porta de casa, Maricotinha sacudia os bracinhos e as perninhas de contentamento. Gostava quando ele a aninhava em seu colo para dormir (muitas vezes ela fingia ter sono só pra sentir seu colo doce e macio), e lhe cantava que devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida, mas que achava isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa...

Maricotinha em poucos meses pôde compreender que amava o moço gordinho, da barba loira que ela tanto gostava de mexer com a mãozinha pequenina e rechonchuda.


Juliana Melo

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